Estreou no passado domingo, dia 4 de maio, a tão esperada primeira edição do TEDxULisboa, um evento organizado de forma independente que faz emergir um conjunto de oradores e artistas com uma audiência diversa na partilha e abordagem de ideias e pontos de vista interessantes e educativos.
O tema escolhido para a série de conferências, que tiveram palco na Aula Magna (reitoria da Universidade de Lisboa), foi Compass – bússola – , apelando à descoberta da nosso verdadeiro norte através de uma viagem pelos sentidos e pelo conhecimento. Como disse a host do evento, Beatriz Moreira, no mundo em que vivemos hoje em dia, que nos permite acesso instantâneo a tudo, acabamos por perder a nossa bússola interior – “somos quase como o Jon Snow, estamos a perder o norte!”, afirmou.
Quem abriu o evento foi o Vice-Reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, que de forma encorajadora mostrou o seu apoio as iniciativas como esta, mais interativas, de partilha de conhecimento e perspetivas. Seguiu-se a performance que assinalou a abertura da sessão South, de P3DRA, mais conhecido por dar voz a à personagem Balu do filme “Livro da Selva”. Entre músicas originais, Pedro propõe a questão “Há um caminho certo?”, fala sobre o seu percurso e como para encontrar o verdadeiro norte o importante é continuar a questionar todas as direções.
Winy Mule, uma estudante angolana da Faculdade de Direito, falou de feminismo, mas daquele que é puro e não cede ao radicalismo. Nas suas palavras, feminismo significa luta pela igualdade de direitos e oportunidades para todos, ao invés de se focar numa batalha entre sexos e na violência sobre os homens. De nada vale ter poder e as ferramentas certas nas mãos para dar voz ao movimento se estas são usadas erradamente e partilham uma imagem distorcida sobre o que realmente representa o feminismo. No século XXI a nossa realidade ainda é esta e, como tal, a solução passa por não apenas partilhar a mensagem, mas também ser críticos em relação à mesma: lutar por direitos humanos básicos para todos, lutar pela cooperação e lutar pelo entendimento mútuo.
Seguiu-se Joaquim Gaspar, especialista em Navegação, Hidrografia e Cartografia Matemática, que nos veio apresentar a sua perspetiva sobre a dúvida “Seria a Terra redonda em 1500?”. O ex-oficial da marinha argumenta que nem todas as opiniões sobre a natureza devem ser respeitadas pois qualquer teoria pode ser refutada, sendo que na sua perspetiva desde os primórdios da humanidade se sabe que o planeta não é plano mas sim redondo.
O orador seguinte, Marco Rodrigues, deixou a plateia entre lágrimas e gargalhadas devido à sua resiliência e coragem contra as adversidades que encontrou desde muito cedo na sua vida. Era ainda pequeno quando lhe foi diagnosticado paralisia cerebral, condição que o incapacitou de andar por si próprio. Mas nem isso o derrotou, e veio provar que “o amor pode mudar uma vida” e, no seu caso, foi a sua salvação. Hoje anda por si e trabalha para melhorar a cada dia que passa, apoiando-se em três lições: “não julguem e não culpem. Cada um faz o que pode com as ferramentas que tem e circunstâncias em que se encontra; acreditem no amor à vossa volta. Pede-o, sê-lhe grato, sê-o; insistam, persistam e nunca desistam!”.
Para terminar as talks da parte da manhã, Leyla Acaroglu, conhecida por defender questões relativas à sustentabilidade e recentemente premiada Earth Champion pelo UNEP, veio espicaçar-nos com uma importante questão: “How do we value invisible things?”. Utilizando uma série de frutos como analogia explica como o valor material das coisas corrompe o seu verdadeiro valor, esse que é invisível. Critica o significado de bem-estar pelo qual nos regemos, o qual se apoia na ideia errada de que quanto mais tivermos e comprarmos mais felizes somos, ignorando fatores essenciais como a liberdade e a natureza. Termina com o pensamento que tudo na natureza tem valor e, como tal, há urgência em redefinir a maneira como o encaramos, através da contribuição das pequenas ações do dia-a-dia.
Após a pausa para hora de almoço, que pôde ser desfrutado na Alameda Universitária, seguido de sessões de yoga & mindfulness com a instrutora Daniela Gomes, foi altura de recomeçar as talks.
Foi a vez da sessão East, aberta com a performance de Bia Berry, nome de artista e compositora porque nas horas vagas é também estudante de medicina dentária. Veio mostrar-nos “The Melodies in my head”, ou seja, o seu trabalho e dedicação ao sonho que sempre teve. Incentiva a seguir os nossos sonhos apesar das adversidades que surjam, pois sejam elas quais forem é imperativo que se analise todas as alternativas para lá chegar.
De seguida, Gonçalo Fonseca, fotógrafo documental freelancer, veio contar-nos a sua aventura por diversos países, como Marrocos, China e Bangladesh, onde deu voz àqueles que não a têm através da fotografia. Interessado pelos direitos humanos, partiu em viagens perigosas e sofreu alguns percalços, mas nem isso deteve a sua sede de testemunhar e partilhar as injustiças pelo globo fora. Acompanhou grupos de refugiados, crianças fugitivas, comunidades de pessoas envolvidas no tráfico e doação de órgãos e dependentes de droga, em busca de criar arte aliada à criação de consciência. Hoje apoia-se no lema “endurance is the key” e no poder de perspetiva, que não só é a melhor parte do seu trabalho como se prende na questão de que a forma como se lida com uma situação é a solução.
A oradora seguinte foi Ana Basílio, estudante do ISCSP, que veio falar sobre “A Importância de Sermos Nós Próprios”. Esta afirma que a sua vida teve quatro fases: a primeira foi quando contou pela primeira vez aos seus amigos mais próximos, quando tinha 17 anos, qual era a sua orientação sexual; a segunda quando veio para a faculdade e se apercebeu que haviam pessoas como ela pertencentes à comunidade LGBT; a terceira foi quando contou aos seus pais; e a quarta fase foi esta, onde veio ao palco da TEDXULisboa e relatou a sua história.
Nuno Santos foi o orador seguinte, autor do livro Vida Acrescentada. Nesta talk, e com um grande sentido de humor, Nuno fala da sua jornada por um cancro agressivo – sarcoma Ewing – que descobriu aos 16 anos e que o fez perder a perna esquerda. Explicou que houve momentos em que se sentiu perdido sobre quem era e onde ia mas remata que o facto de nos sentirmos perdidos acaba por permitir a busca por nós próprios e descobrir outros caminhos.
As últimas talks do dia (West) recomeçaram por volta das 16 horas e 30 minutos com Rizumik, músico, cantor, ator e campeão de beatbox. Este falou sobre como a improvisação é uma ferramenta importante neste mundo e que deve ser praticada, pois é a habilidade de conseguirmos lidar com o que nos rodeia no momento, sendo espontâneos e sem nos sentirmos intimidados.
Daniel Caramujo veio falar de solidão na sua talk intitulada “Loneliness: public enemy nº1”, onde explicou que a solidão pode acontecer em qualquer fase da vida e em como isso é uma problemática que se está a tornar cada vez pior conforme o passar dos anos e décadas. Para si, a solução para nos deixarmos de sentir sós passa pela mudança de comportamentos.
Numa pausa entre oradores, a organização do TEDxULisboa entregou um cheque de 1500€ às Aldeias SOS, em conjunto com uma percentagem das vendas dos bilhetes comprados pelo público.
Joana Lobo Antunes, comunicadora científica e locutora na Antena 1 com o seu programa “90 seconds of science” falou sobre como os estereótipos que existem no mundo da ciência não são falsos mas estão incompletos. Explica que em Portugal é usualmente pensado que há mais homens a trabalhar nas ciências, mas desde 2010 que o oposto acontece e existem mais mulheres, sendo o país com mais mulheres que homens em carreiras STEM. Conta também que a etnia é algo que tem de ser tida em consideração pela falta de diversidade e representação nestes campos e que a idade não deve impedir ninguém porque existem cientistas de todas as idades.
A última oradora deste ciclo de conferências foi Catarina Holstein, que contou a sua história: como se despediu do seu emprego depois de se aperceber que não fazia aquilo que gostava e quando ponderou o que fazer a seguir decidiu viajar, ao que ela chamou o seu “Masters in living adventures”. Holstein explica ao público como planeou a sua viagem, explorou vários países, desde ter aprendido construção na Índia, a fazer meditação e yoga na Tailândia ou como fazer surf na Austrália. Propõe que nos a desafiemos a usar o mundo como um espaço de aprendizagem, tal e qual como uma sala de aula.
Foi com estas palavras que terminou a primeira edição do TEDXULISBOA, deixando a promessa que a equipa gostou muito e que quererá continuar com o projeto.
Escrito por: Ângela Pereira e Matilde Cantinho
Editado por: Inês Queiroz