Em Portugal, o número de veganos tem aumentado gradualmente nos últimos dez anos. Hoje são cerca de 120 mil, segundo um estudo da consultora Nielsen. No próximo fim-de-semana, Lisboa recebe o Festival que pode mudar consumos e consciências.
De 28 a 30 de março terá lugar, na capital, o Festival Vegan e Vegetariano, que conta com entrada livre. Esta será uma feira ao ar livre em que se poderá provar diversos pratos, inspirada num conceito que começou em Paris. “Não queremos forçar, mas sim sensibilizar dando a conhecer outras formas de alimentação que terão um impacto direto na saúde das pessoas e que, em cadeia, trazem resultados para a sustentabilidade do planeta”, garante a organização do evento.
Os Millennials podem marcar presença, já que a geração mais jovem aposta num registo ambiental consciente, com um maior número de adesão a esta opção de alimentação, que se quer, de acordo com os nutricionistas, planeada.
Mariana Mateus, estudante de 18 anos, recorda quando aos cinco anos questionou pela primeira vez, junto da avó, sobre o que era “aquela coisa vermelha” exposta no talho. A avó sorriu e respondeu que era um coelho, morto e esfolado. A partir desse dia, a jovem não voltou a comer coelho. Dez anos depois, algumas pesquisas feitas sobre vegetarianismo e muita consulta de receitas, percebeu que era fácil eliminar por completo o consumo de carne e de peixe e manter uma degustação saborosa.
Mais tarde, ao ver Cowspiracy, um documentário icónico entre vegetarianos e vegans, ficou de novo “chocada”. “Se ao início tinha questionado as minhas opções alimentares somente por causa do bem-estar animal, depois de ver o documentário percebi que o problema era ainda maior do que eu pensava… estava quase a viver uma mentira”. Sensibilizada pelos gastos “desnecessários” para alimentar os animais, pelos efeitos da poluição associada à industrialização da alimentação tradicional, Mariana sentiu até “um pouco de revolta por nunca ninguém lhe ter explicado estas dinâmicas” e por ter, ela própria, que recolher estas informações.
Mitos e crenças
No entanto, esta mudança não foi uma decisão fácil para a sua família. A mãe de Mariana tinha receio de carências proteicas e de que esta alimentação fosse mais dispendiosa. Determinada, Mariana disse-lhe que “ser vegetariana era a única opção e que se não pudesse ser vegetariana, então, simplesmente não comia”.
A mãe acabou por ceder, mas sugeriu a consulta de um nutricionista, que lhe recomendou um plano alimentar que não integrava a opção vegan. Um ano depois, Mariana decidiu abandonar o consumo de qualquer produto de origem animal. “Deixei de comer ovos, leite, os seus derivados e mel, deixei de vestir roupas com pele e deixei de usar marcas que experimentassem em animais.”
Afinal, para os veganos, importa saber quais as marcas que são cruelty free, ou seja, que não testam, “de todo” em animais e quais as que afirmam ser, mas não o são a 100%, como é o caso das marcas Caudalie, Clarins, Dove, MAC, Maybelline, Pantene, L’Oréal e muitas outras. De acordo com a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), as empresas afirmam continuar estas práticas a fim de terem dados com que se possam defender, caso algum consumidor apresente alguma queixa contra as mesmas. Ainda, dizem ser difícil prever se os resultados em animas vão ser os mesmos do que em humanos.
Bons exemplos são a Urban Decay e a The Body Shop que recusam testar em animais e, neste sentido, não abrem lojas na China, para garantir que têm um controlo sobre todos os seus produtos, ainda que, neste caso, se arrisquem a vender menos. Também o teste em animais pode ser mais económico e funcional para as marcas, uma vez que, sem eles, estas necessitam de fazer ensaios com células e tecidos humanos.
Oferta crescente
Manuela Martins, de 20 anos, é outro exemplo de mudança e de inspiração para quem a rodeia. Atleta de alta competição, pratica uma alimentação e estilo de vida vegan desde os 16. Desde criança que tem uma grande paixão por animais o que a levou hoje a ser estudante de Medicina Veterinária.
Também Mariana Mateus afirma que ambas as transições foram fáceis e que, hoje, quase todos os produtos têm um substituto vegan. “Não foi preciso abdicar das minhas comidas favoritas para viver de um modo mais consciente.”
Hoje uma opção vegan já faz parte das ementas escolares e institucionais e crescem alternativas em outras dimensões de consumo, tais como os cosméticos, roupa e produtos de limpeza amigos do ambiente. Na década anterior, poucas eram as opções de restaurantes veganos existentes em Portugal, pelo que as pessoas que queriam ter este registo de alimentação tinham que trazer a comida de casa para o trabalho. Em 2018, a oferta da restauração integra mais de 172 variedades com opções vegans. Lisboa não é exceção, apresentando cadeias diversas como a Fauna & Flora, Local-Your Heathy Kitchen, embora os restaurantes O botanista ou o My mother’s daughters sejam 100% vegan.
A cadeira mundial de restaurantes McDonald’s também já se rendeu ao McVegan e aplicações digitais como Zomato ou TripAdvisor contam já com uma secção de Healthy Food na parte dos restaurantes. O site 269Events conta com uma programação de eventos vegan em Portugal e, para os interessados, a subscrição na newsletter permitirá as possíveis atualizações.
Escrito por: Beatriz Duarte
Editado por: Ana Mendes