A Missão País não é mais do que um “projeto católico de universitários que tem como objetivo levar Jesus às Universidades e evangelizar Portugal através do testemunho da fé, do serviço e da caridade”. Aliás, é muito mais que isto. São poucos os que o sabem, mas o projeto foi desenvolvido por jovens universitários que sentiam a necessidade de levar a palavra de Deus ao local onde passavam grande parte do seu tempo – a faculdade – encontrando nas missões amizades em Cristo que os aproximam depois durante a vida académica.
Este projeto procura desenvolver as Missões Universitárias em várias faculdades de Portugal, desde universidades do Porto, Lisboa ou Coimbra, contando com um crescimento cada vez maior. Com um número atual de 42 missões, o projeto começa a estender-se à Europa!
Hoje, viemos falar-vos da nossa missão, enquanto alunas de Ciências da Comunicação, da nossa faculdade, o ISCSP.
Chamo-me Beatriz Duarte, tenho 19 anos, e este foi o primeiro ano em que decidi arriscar e ir missionar, não sabendo bem de início o que me esperaria na semana do Carnaval. As missões decorrem sempre do primeiro para o segundo semestre, em diferentes aldeias de Portugal, permanecendo três anos em cada localidade. Este ano, à semelhança dos dois anteriores, a nossa missão decorreu em Arronches, uma pequena vila pertencente ao distrito de Portalegre.
Foram cerca de 50 jovens que partiram para missionar pela nossa faculdade e foi-nos logo de início explicado que a missão se dividiria em três partes que se complementariam no final: missão externa, missão interna e missão pessoal.
Na parte referente à missão externa, fomos divididos em grupos mais pequenos – as comunidades – com o objetivo de desenvolvermos voluntariado junto da população de Arronches. Estas comunidades englobaram o lar de Idosos, a escola primária, o Teatro, a Santa Casa da Misericórdia, o LIJE – Associação Casa Juvenil, o CAO – Centro de Atividades Ocupacionais e, ainda, a comunidade Porta-a-Porta, comunidade da qual tive o prazer de fazer parte, e na qual visitámos diferentes casas de pessoas, batendo de porta em porta, com o intuito de evangelizar, de ajudar as pessoas nas suas tarefas diárias ou simplesmente fazer-lhes companhia, alegrando-lhes o dia, desenvolvendo pequenas atividades com eles ou cantando-lhes canções, sobretudo aos mais idosos, que estão muito esquecidos pelas suas famílias.
Na missão interna, é nos incutido um equilíbrio entre voluntariado e oração, em que nos é proposto que reflitamos sobre aquele dia de missão, seguido, depois, de um momento de partilha de experiências ou momentos que nos tenham marcado enquanto fazíamos voluntariado.
Por fim, a missão pessoal, que “consiste na aprendizagem que cada um faz durante a semana de missões e que traz consigo para o dia-a-dia.”, pois ao longo desta semana foram-nos transmitidos vários valores, que levamos daí para a frente.
Bem, agora falar-vos-ei um pouco mais da minha experiência pessoal, que me mudou tão e me tocou de várias formas. A comunidade que me foi atribuída foi “Escola e Porta-a-Porta” e não poderia ter ficado mais feliz com essa atribuição, uma vez que tenho um grande carinho quer por crianças quer por idosos. Na escola, passámos apenas dois dias, mas estabeleci laços enormes com aquelas crianças. Posso garantir-vos, elas têm uma magia dentro delas que é contagiante. Nós, missionários, tínhamos a missão de entreter o intervalo das crianças, desenvolvendo dinâmicas e jogos com eles, e desde logo percebi o quão genuínos e puros eles são e o quão bom foi ser criança e poder reviver certos jogos que fazia naquela idade. Acreditem, eles aprenderam connosco, missionários, mas nós aprendemos muito mais com eles. Só um simples sorriso de um deles me deixa tão feliz e cheia de orgulho. Foi uma experiência e aventura a repetir, sem dúvida.
Já na comunidade “porta-a-porta”, posso dizer-vos que foi uma comunidade que me desafiou mais, pelo facto de nem eu nem nenhum membro do meu grupo de missionários saber o que poderíamos encontrar no outro lado da porta, simplesmente batíamos e íamos à descoberta, com o objetivo de passar tempo e conversar com quem nos ouvisse, sem medos nem receios. Digo-vos, muito talento esconde Arronches, pois conheci cada história que vocês só acreditariam se vissem. Muitas pessoas que mereciam destaque e reconhecimento. No “porta-a-porta” constatei uma grande realidade: muitas são as pessoas que vivem abandonadas pelos próprios familiares em Portugal, e essas pessoas precisam de nós, jovens, para os motivarmos e lhes darmos força para que prossigam as suas caminhadas.
O meu nome é Inês Mestre e, à semelhança da Beatriz, também tive o enorme prazer de fazer parte da comunidade “Escola e Porta-a-Porta”. Posso dizer-vos desde logo que foi uma experiência incrível, não só fazer parte desta comunidade como fazer parte desta missão. Ouvi testemunhos incríveis de força, amor e muita fé, ouvi histórias que nos fazem pensar o quão insignificantes são os nossos problemas perto de outros tantos. Entreguei-me a servir estas pessoas, a ajudá-las e cresci muito durante esta semana, a todos os níveis.
Cresci com os idosos que visitámos, que nos abriram as suas portas e o seu coração, que partilharam as suas histórias e memórias e nos falaram com amor das suas famílias, que nos mostraram os seus talentos e partilharam as suas dores.
Cresci com as crianças que nos arrastavam para brincar e cantavam connosco o hino da missão. Cresci quando lhes pedimos que escrevessem num painel as suas intenções/ pedidos a Jesus, e entre uns patins e uma BMX alguém pedia que os pais ficassem juntos para sempre ou que nunca mais fosse gozada pelos meninos. Cresci quando no nosso último dia de missão um grupo de meninas veio ter connosco e disse que tinham uma canção preparada para nós, uma canção que dizia mais ou menos o seguinte: “Todos na escola gostam da missão/ Missão País amigos do coração/ sei que é difícil despedir-me de ti/ o que fará a missão voltar aqui.”
Por tudo isto só tenho a agradecer. Vivi a fé de uma forma mais comprometida e vi sorrisos, muitos, e sorri de volta muito mais. Voltei e trouxe comigo a vontade de voltar.
Ao contrário das minhas colegas, eu, Inês Ferreira, tive uma missão diferente. Foi me dada uma missão que eu nada esperava e confesso que era das que mais receava. Tinha ficado no lar.
Estava um pouco reticente antes do primeiro dia, mas não quis dar parte fraca. Deus estava a dar-me um desafio que na altura parecia enorme, e talvez tudo isso fosse por um motivo.
A verdade é que mal cheguei lá todas as respostas surgiram. Todos os medos e receios se transformaram em alegrias e conquistas. Todos os sorrisos de cada um daqueles idosos me davam a sensação de que eu estava a fazer a coisa certa. E, sem me aperceber, estavam ali todas as respostas, todas as certezas que eu procurava.
A cada dia que voltava já estavam eles à nossa espera, sempre com o mesmo sorriso. Sempre com a mesma alegria de quem por uma semana recebe uma companhia diferente, novos sorrisos e jovens que estão ali, dispostos a ouvir as suas histórias, sempre de braços abertos para dar e receber um abraço. E como são bons os abraços daqueles que carregam tanto no coração, que carregaram tanto nos seus braços e, mesmo assim, não hesitam em largar um sorriso o mais sincero e genuíno possível. Têm histórias de vida tão difíceis. Tantos que estão ali simplesmente abandonados. Sem ver a família e com tantos problemas de saúde e, mesmo assim, lá está o sorriso.
Foi reconfortante ficar nesta comunidade e surpreendente como me pôde acrescentar tanto como ser humano. Dar-me consciência que nos queixamos demasiado. Tantas vezes. De coisas tão pequenas, tão fúteis. E estas pessoas que têm tantos motivos para desistir e perder as forças, nunca em momento algum o fazem. São exemplos de coragem, de vontade de viver, de luta, de persistência. E exemplos essencialmente de fé. Muitos, dizem ser ela “que os mantém aqui”.
Não há como regressar da missão e não sentir uma enorme vontade de voltar. Não há como ficar indiferente a tanta coisa que nos rodeia.
A missão é uma forma de ajudar o próximo mas também é um momento de encontro connosco mesmos. Proporciona muito a reflexão e a introspeção, incentiva a nossa relação ou o reforço da nossa relação com Deus. A descoberta e redescoberta da nossa fé. Encontramos respostas que procurávamos, algumas que não sabíamos precisar mas que nos dão uma paz de espírito enorme.
Volto com sensação que recebi tão mais do que aquilo que dei. E é tão bom ser desta forma.
Todos os missionários foram para Arronches com o intuito de marcar o coração daquelas pessoas e acabamos nós a sair de lá marcados, com o coração bem apertadinho, cheio de coisas boas e com um enorme carinho por cada uma das pessoas que tivemos oportunidade de conhecer.
Como nos disseram inúmeras vezes, a grande missão começa agora, que não temos quem nos diga “façam isto ou aquilo”, agora que estamos por nós. Agora que já nos foram transmitidos os valores só temos de seguir em frente e trazer a paz a todas as casas, começando pela nossa própria casa.
Escrito por: Beatriz Duarte, Inês Ferreira e Inês Mestre
Editado por: Daniela Carvalho