Foi noticiado recentemente a ingressão do ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, no corpo docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), onde o mesmo irá leccionar cadeiras de Economia e Administração Pública. Como em todos os casos envolvendo figuras políticas, gerou-se alguma contestação e apoio de parte a parte.
Entre as críticas habituais presentes nas redes sociais ao convite de Pedro Passos Coelho para professor no ISCSP, realço uma delas bastante repetida, que é a de que o ex-primeiro-ministro “não tem qualificações para lecionar”… Será que não tem?
Pedro Passos Coelho licenciou-se em Economia pela Universidade Lusíada no ano de 2001, possuindo uma licenciatura “pré-bolonha”, licenciatura essa que tinha uma duração de 5 anos e que, actualmente, por decreto de lei, é equiparada a Licenciatura + Mestrado. No seu currículo, o ex-primeiro-ministro conta ainda com vários cargos administrativos em empresas privadas e como professor universitário no Instituto Superior de Ciências Educativas. Se parássemos por aqui, Pedro Passos Coelho já teria valências suficientes para ser professor universitário (algo que já era), mas o seu percurso obviamente não ficou por aqui.
Após o infame governo de José Sócrates, governo esse que chegou ao fim em 2011 com um pedido de resgate ao FMI e com a demissão do seu primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho vence as eleições e é eleito o novo primeiro-ministro. Exerce esse cargo durante cerca de 4 anos e, em 2015, é novamente reeleito (mesmo após o período difícil que o país viveu durante a sua legislatura), mas devido a um histórico acordo à esquerda, o seu governo acaba por cair.
Pedro Passos Coelho, tendo sido primeiro-ministro num período fulcral para o país, adquiriu uma experiência inigualável e de bastante valor, principalmente para áreas como a Administração Pública e a Economia, áreas essas que irá leccionar. Tenho a certeza que essa experiência e os conhecimentos que foram adquiridos durante esses anos não podem ser obtidos em nenhum doutoramento e em nenhuma universidade do mundo.
Como referiu Sérgio Sousa Pinto, curiosamente deputado do PS, “A experiência de um ex-primeiro-ministro, qualquer que seja, é única e valiosa. Por isso são disputados pelas melhores universidades dos seus países, sendo essas não raro. As melhores universidades no mundo. Poucos aceitam, preferindo a liberdade e o proveito do circuito de conferências remuneradas a peso de ouro.”.
Pedro Passos Coelho podia muito bem ter ido a título de consultor para uma empresa privada como a Octapharma ou para uma Goldman Sachs deste mundo. Algo feito por alguns políticos portugueses num passado recente, e onde iria sem dúvida receber pelo menos cinco vezes mais do que receberá como professor universitário. No entanto, não o fez e os seus alunos vão ser os privilegiados por essa decisão.
Ao contrário do que se possa pensar, para ser professor catedrático de uma instituição de ensino superior não é necessário uma candidatura (repare-se em tal facto), mas tal pode ser necessário em regime de convite, como é o caso do nosso ex-primeiro-ministro. Portanto, a sua ingressão não desrespeitou qualquer processo de candidatura de docentes ao ensino superior.
Quanto ao facto de lhe ter sido atribuído o título de Professor Catedrático Convidado, outra coisa não era de se esperar, pois a lei é clara e prevê isso mesmo como podemos verificar:
Não se é obrigado a gostar de Pedro Passos Coelho e das suas ideias políticas, sendo isso algo que cabe a cada um. Mas tivesse sido António Costa na mesma situação daqui a uns anos, a minha opinião manter-se-ia, pois não é nas ideias políticas que se centra esta questão. O percurso do ex-primeiro-ministro até professor catedrático pode não ter sido o habitual, mas é exactamente esse motivo que o torna uma mais valia para todos os seus futuros alunos e para o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
Escrito por: João Jesus
Editado por: Inês Queiroz