Neste último mês assistiu-se a um escalar de tensão entre a Grécia e a Macedónia, apesar de não se verificar nenhum tipo de conflito armado. A tensão tem essencialmente uma natureza diplomática e a razão de ser é estritamente político-histórica. Origem desta tensão? O nome: a causa da tensão entre os dois países tem origem no nome ”Macedónia”.
Para os mais atentos aos processos de fragmentação dos regimes socialistas um pouco por toda a Europa, no início dos anos 90, o processo de fragmentação da República Socialista da Jugoslávia não passou despercebida, essencialmente devido aos conflitos sangrentos que ocorreram nos Balcãs no período pós-Jugoslávia e ao surgimento de novos estados com a queda da mesma. Entre estes novos estados dos Balcãs é de destacar a Macedónia. Mas a criação do estado da Macedónia abriu espaço para um novo conflito, que se prendia com o nome adoptado: o uso da denominação ‘’Macedónia’’ para o recém-criado estado foi de um enorme desagrado para a Grécia. É de notar que existe uma região a norte da Grécia com o nome ‘’Macedónia’’, região de onde terá Alexandre, o Grande, iniciado o seu processo de expansão séculos antes.
A região histórica da Macedónia é, assim, partilhada entre a Grécia e a Macedónia, região que nunca conheceu homogeneidade, tendo sido compartilhada por helenos, eslavos e otomanos ao longo da história. Assim sendo, a questão da identidade étnico-cultural foi sempre uma questão delicada.
É precisamente aí que surge a querela greco-macedónica: a Grécia acusa a Macedónia (com uma identidade étnico-linguística eslava) de apropriação cultural helénica, e até mesmo um furto, pois a história da região e mais concretamente a figura de Alexandre, o Grande e os seus feitos são reivindicados também pelos macedónios eslavos. A Grécia, desde os anos 90, opôs-se à adopção do nome ‘’Macedónia’’. Como tal, para acalmar as pretensões gregas, o recém-formado estado adoptou o nome de ‘’Former Yugoslav Republic of Macedonia’’, em inglês (FYROM), sendo este o nome oficial do país internacionalmente.
Mas a polémica sempre se manteve, embora relativamente silenciada. Nas últimas semanas, o conflito ressurgiu com milhares de pessoas a manifestarem-se na Grécia. O primeiro-ministro macedónio, Zoran Zaev, mostrou-se disposto a acabar com o impasse de uma vez por todas: ‘’Nova Macedónia’’ ou ‘’Macedónia do Norte’’ parecem ser algumas das opções para um novo nome do país e para o fim da polémica.
Mais do que um conflito diplomático isolado, a questão greco-macedónia poderá ter repercussões no equilíbrio de forças europeu: findo o desentendimento num cenário hipotético, a Macedónia poderá, sem o entrave da Grécia, mais facilmente negociar a sua entrada na NATO e na União Europeia, algo que beneficia a ordem ocidental e o eixo EUA-UE. Por outro lado, poderá ser um golpe para os interesses russos na Europa caso mais um país eslavo caia na esfera ocidental. A forma como o governo do Syriza em coligação com o partido ANEL, partido de direita nacionalista e eurocéptico, decidir lidar com a situação também poderá ser um trunfo na mão do governo grego, podendo desviar a atenção da situação económica complicada do país para esta questão de menor importância.
Escrito por: Andriy Voyevoda
Editado por: Inês Queiroz
Um pensamento sobre “A importância de se chamar Macedónia”