Mais uma vez, Whitney surpreende-nos com uma versão demo (que podem ouvir aqui ) de um dos melhores álbuns que 2016 viu e ouviu a passar. Desde covers a originais, Whitney revela-nos o seu toque alternativo no indie rock.
Sendo Whitney a espécie de “alter-ego” de Julien Ehrlich e do seu antigo companheiro, em Smith’s Western, Max Kakacek, com certeza que não íamos sair desiludidos neste novo lançamento do grupo. A banda que me deixou a mim e a muitos dos presentes no NOS Primavera Sound emocionados, revela, uma vez mais, o seu charme pessoal e melodia magistral numa combinação única entre a bateria e a voz em falsetto de Ehrlich e a guitarra de Kakacek, quase nos transportando para o universo paralelo de Tame Impala, em Currents.
Desde já afirmo que, mesmo sendo em versão demo, não creio que o objetivo tenha sido acrescentar algo de novo ao debut album, mas sim intensificar a diferença que a banda de Chicago detém no indie rock.
Se já o álbum original o era, este não iria deixar de ser uma boa companhia, ora para aquelas longas viagens de carro até à praia, ora para fins de tarde tranquilos a ver o pôr de sol. E tal e qual como o verão, a gravação demo exprime o toque fresco e suave do mesmo, existindo uma alteração em apenas duas músicas do álbum original.
Abrindo com o “quase hit” da banda americana, “No Woman” , que inicia a nossa jornada de verão por Los Angeles, é, na minha opinião, das músicas mais bonitas do álbum, onde a voz angelical de Ehrilch ecoa no coração de cada um, fazendo-nos apaixonar pela serenidade inerente ao tempo quente e às longas viagens de retrospetivas.
“Midnight driving through the bay
Going back on the road
Coming up and I wish I could stay
I’ve been sleeping alone
I’ve been going through a change
I might never be sure
I’m just walking in a haze
I’m not ready to turn”
Segue-se “The Falls” que será, possivelmente, a música “mais demo” do álbum: tem um timbre bem mais descontraído e suave, em comparação ao original, desde o bass aos vocais de Ehrilch. Na mesma linha de autenticidade, temos “Dave’s Song” que mantém o som dinâmico da obra de Whitney e uma intimidade reforçada.
“I know you can’t help me now
And sometimes people change
I’ve been sick since you left town
We’ve gotta find a way to feel the same”
Não para um slow dance, mas para um estilo único de baladas, Whitney canta e encanta com “Golden Days” (que, só por acaso, soa melhor que nunca com a guitarra de Kakacek) e “On My Own”. Que terei eu a dizer sobre estas duas se não implorar para que as ouçam e se deliciem com a profundidade das palavras da distinta, contudo, emocionalmente frágil voz de Ehrilch em falsetto? É verdade que a guitarra de Kakacek, não perdendo a qualidade porém, se encontra significativa num tom mais baixo, contudo a voz do antigo membro de Unknown Mortal Orchestra continua a florescer numa versão menos refinada, no entanto, natural.
Apesar de ser um projeto centrado na dor do término de um relacionamento, é um produto alegre e exuberante, com o brilho infligido do indie rock de Chicago. Assim sendo, a banda surge com “Follow” que fala por si própria quanto ao amor.
“I pray your troubled mind remembers
When it’s coming to an end
At least the rain won’t come again”
Nesta análise “side-by-side” entre as duas versões de álbuns praticamente idênticos, tenho a acrescentar que considero que todas as faixas têm tanto ou mais charme na versão demo do que na original e que, apesar de não ser um lançamento destacado por direito próprio, trazem um novo início ao espetro de indie. Sons incrivelmente fáceis de se gostar, com uma mistura de soul e rock dos anos 60/70 na palheta, marcam, novamente, a magia de Whitney na performance de Ehrilch e Kakacek, numa banda constituída por sete membros.
Uma vez mais, esta versão não acrescenta nada de novo à originalidade do debut album, no entanto, como já tinha referido, conta com duas músicas novas – “You and Me” e o cover “Southern Nights”, de Allen Toussaint. Encaixando perfeitamente com o resto do álbum, a primeira é um produto alegre que traz mais brilho a esta versão, cujo uso adocicado da guitarra de Kakacek é diferente de em “On My Own”, surgindo, assim, um ritmo à Americana, onde as cordas agradavelmente nos transportam para o cover de Allen Toussaint, que não está muito longe da suavidade e ternura da original, mas que, com um maior apoio no piano do que na guitarra, nos faz sentir o “bluesy sound” que tanto gostamos nos Whitney.
Uma particularidade que acho, substancialmente, interessante e que, no meu ponto de vista, tornam a versão em demo bem mais cativante, é o facto de certas músicas terem um ritmo mais lento, que tornam as tais ditas longas viagens de carro até à praia mais sossegadas, onde quase que até me consigo imaginar a atravessar o “countryside” em busca do sossego e tranquilidade do mar e da brisa de verão.
E falando em músicas mais lentas, “No Matter Where We Go”, o stand-out track do álbum, é exemplo disso, considerando que a versão demo alonga-se por cerca de dez segundos em relação à original. Esta, por sua vez, na sua melodia enérgica, revela as intenções e planos de um bom encontro entre apaixonados.
“I can take you out
I wanna drive around
With you with the windows down
And we can run all night”
E já que o melhor fica para o fim, apresento-vos a minha preferida – “Polly” – que sai mais beneficiada nesta versão pelo som aberto da proeminente bass line. Para quem gosta da onda chill, devem dar uma oportunidade, pois isto é tudo o que precisam para relaxar e se sentirem bem, já que se costuma dizer que não há nada melhor que música bonita para isso…
E agora sim para concluir, Whitney resolveu lançar esta versão de um dos meu top 10 de álbuns de 2016 – que serviu um dos melhores concertos a que assisti no NOS Primavera Sound 2017 -, mas a verdade é que novidades destas entusiasmam e, sobretudo, refrescam a alma do indie.
Classificação TDSessions: 8/10
Escrito por: Elisa Vaz
Editado por: Ricardo Marquês