A 9 de novembro de 1989, o muro que dividia a cidade de Berlim caiu por terra, reunificando a Alemanha depois de (curiosamente) 28 anos sob influência ocidental e capitalista de um lado, e oriental e socialista do outro. Este acontecimento é um dos mais marcantes da história devido às repercussões que teve na Alemanha e, posteriormente, em quase toda a Europa.
Recuemos um pouco até aos antecedentes deste marco histórico, até ao pós-II Guerra Mundial. A Alemanha era um país arrasado. Depois de duas reuniões (Potsdam e Teerão), os aliados reuniram-se novamente, ainda em tempo de guerra em Ialta, na Ucrânia, em 1945, para chegar a um fim rápido na guerra, bem como a posterior divisão das chamadas “zonas de influência”.
Uns meses mais tarde, como maior perdedora do conflito mundial, a Alemanha viu-se obrigada a subjugar-se perante os objetivos dos aliados e… da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) na pessoa de Estaline, primeiro aliado dos Nazis na II Guerra.
Mais tarde, em setembro de 1949, foi oficialmente fundada a República Federal da Alemanha (RFA), sob influência dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido, dividida em três setores. Em outubro foi a vez da fundação da República Democrática Alemã (RDA) de influência socialista, por parte da União Soviética. Konrad Adenauer foi o primeiro chefe de governo da RFA, considerado um dos pais da social-democracia e arquiteto do estado social e da economia social de mercado. No caso da RDA, Otto Grotewohl assumiu o dirigismo através do Partido Socialista Unificado da Alemanha de índole comunista. Como a capital, Berlim, se encontrava “cravada” no centro da Alemanha Oriental, foi também dividida à imagem de toda a Alemanha.
Entretanto, foi a partir daí que nasceu a famosa Guerra Fria, período em que potências ocidentais pró-capitalistas poderiam a qualquer momento entrar num novo conflito mundial contra as potências pró-comunistas, encabeçadas pela União Soviética. Até ao ano de 1961, os Berlinenses podiam circular normalmente por toda a capital germânica, mas com o aquecer da Guerra Fria, Nikita Khrushchov (líder soviético desde o afastamento de Estaline no ano de 1953), juntamente com Walter Ulbricht, decidiram, secretamente, construir um muro em volta de Berlim Ocidental, de modo a bloquear os acessos à parte da cidade controlada pelos aliados, muito por causa da imensa emigração de cidadãos da RDA para Berlim Ocidental.
O Muro de Berlim era icónico. Eram 66,5km de betão, cimento, cercas eletrificadas, centenas de Torres de vigia e milhares de soldados prontos para disparar sobre alguém que tentasse ultrapassar o muro. Foram mortos 80 indivíduos e mais 112 ficaram feridos ao abrigo da “Ordem 101”, que permitia aos soldados da Alemanha Oriental disparar sobre quem tentasse entrar na zona capitalista da capital. Em 1963, o presidente norte-americano discursou em Berlim Ocidental, onde proferiu a famosíssima frase “Ich bin ein Berliner” (Eu sou um Berlinense) e criou um dos momentos mais notáveis e emocionais da Guerra Fria.
A crise e a clara fraqueza do regime socialista da União Soviética era evidente, a Rússia não prosperava e só regredia. Até que em 1987, Ronald Reagan proferiu também ele um discurso considerado icónico nas Portas de Brandemburgo, na Alemanha Oriental. Foi nesse discurso que ficou imortalizada a frase “Mr. Gorbatchev, tear down this wall!!”, mostrando-se solidário para com aqueles que reivindicam poder viajar não só por toda a cidade de Berlim, como por toda a Alemanha.
Mikhail Gorbatchev era então o líder soviético aquando desse discurso, conhecido pelo projeto Glasnost e pela Perestroika, que representavam a abertura russa ao capitalismo, deixando para trás a índole socialista. Era um presságio daquilo que se seguiria em 1989.
Eis que a 9 de novembro de 1989, depois de muitas manifestações e semanas dos alemães junto ao muro, os cidadãos berlinenses tomam a iniciativa de derrubar o muro manualmente e em estado de alegria. Mais tarde nesse dia, o Conselho de Ministros da RDA aboliu impulsivamente todas as restrições a viagens de um lado para o outro do muro e abertura da fronteira foi transmitida em direto na televisão, provocando uma grande afluência nas zonas junto do muro, como por exemplo, nas Portas de Brandemburgo, onde foram criadas boates que ofereciam cerveja aos berlinenses que ali se encontravam em festa.
A Queda do Muro simbolizaria mais tarde, em 1990, a total reunificação da Alemanha, visto que já não fazia sentido a existência de “zonas de influência”. Um ano depois, em 1991, foi a vez da Queda da União Soviética libertando um vasto número de países desde a Polónia, à Ucrânia, passando pela Bulgária, República Checa e até o Cazaquistão, entre muitos outros. Desde então, nos dias de hoje reconhecemos a Alemanha e a Rússia como duas das maiores potências mundiais.
Escrito por: Bruno André
Editado por: Inês Queiroz