O cenário viseense do pós-fogo

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Foto: Joana Bourgard/RR

O comboio passa e o silêncio envolve toda a carruagem. A verde paisagem de vales e montanhas, onde predominava o pasto e o sustento de inúmeras famílias, está agora reduzido a um negro doloroso. Vão-se sucedendo vários comentários que são possíveis de se ouvir: “Olha as casas!”. O espanto é partilhado, acreditem minhas senhoras!

No distrito de Viseu, a viagem faz-se entre os concelhos de Mangualde, Nelas, Carregal do Sal e Santa Comba Dão, alguns dos mais fustigados pelos fogos do passado dia 15 de outubro. A floresta encontra-se destruída, há ainda um ligeiro aroma a queimado, principalmente quando o vento decide fazer a sua dança, e é percetível a destruição desoladora que magoa até quem não assistiu ao cenário de perto.

No dia 15, todo o distrito de Viseu era um completo inferno de fumo. Este impossibilitava que se respirasse em condições, o que levou à distribuição gratuita de máscara para o perigo de andar na rua fosse minimizado. A cidade capital de distrito encontrou-se cercada de fogos, que não permitiam alguns contactos e metiam os que estavam longe em pânico, sempre com o medo presente de o fogo chegar às suas casas ou terras. Por muitos foi descrito como um cenário de fim do mundo.

A dimensão é muito maior do que imaginava. Várias aldeias encontram tudo em seu redor queimado. Estiveram durante horas cercadas por chamas e as casas nem se percebe como não arderam. Lá ao fundo, na Serra do Caramulo, o cenário é idêntico, igualmente doloroso. Centenas de famílias perderam tudo o que tinham e muitas outras foram também afetadas, embora com prejuízos materiais menores. Em terras tão religiosas do interior, os mais velhos dirão que foi um milagre de Deus.

Não se consegue perceber, de forma racional, como é que os fogos ganharam uma dimensão tão ampla, mas talvez a seca extrema que varre o distrito, a falta de meios de combate e a sua má distribuição pelos focos de incêndio, e mesmo a desvalorização inicial dada pelo próprio governo central, porque afinal era outubro e o calor não deveria ser tão intenso, podem ser alguns fatores a apontar.

Agora, daqui para a frente, é esperar que as novas medidas e reformas na floresta sejam postas em prática e que estas sejam eficazes, para que o cenário catastrófico deste verão (e outono) de 2017 não se volte a repetir. É ainda de esperar que o espírito solidário dos portugueses continue tão grande como foi neste momento trágico para tantas populações, que, felizmente, tiveram a oportunidade de receber ajudas daqueles que se acharam capazes de ajudar.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados. 

Escrito por: Raquel Vitória

Editado por: Ricardo Marquês

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